Entre pecados e ausência de sal:
uma alegoria de andares até Beatriz


Lá estava no Arte & Letra com minha namorada e entre tantos títulos, um livro com meu nome. "Será que era referência a Dante?", me questiono. Sinopse lida, era sim. Comprei e fui ler.

As primeiras páginas são interessantes, nos contam onde ele está, para onde está indo e também como é Beatriz, uma mulher misteriosa, de sobriedade ao se vestir, que chamou atenção do protagonista tal como uma presa e que lhe deu um bilhete para encontrá-la em outro país, Budapeste.

Quando o protagonista chega no endereço, ele passa por vários andares, cada um representando algo, a partir de seus moradores, como o nº2 sendo a luxúria, o nº3 a gula, e assim por diante. Temos um personagem no bar, o seu Haroldo, que age como um mentor-guia entre os andares, até que o protagonista esteja pronto para estar no mesmo andar que Beatriz.

A leitura em si não é difícil, é fluída. Todavia, há pontos fracos que tornam a leitura enfadonha, especialmente quanto a construção das personagens femininas, a personalidade do protagonista e sobre o sexo. Calma, vou explicar:

1. O protagonista
 Ele está mais um observador sem muita personalidade, além de transar e ocasionalmente lembrar que estava ali buscando por Beatriz.

2. Personagens femininas, o sexo e o protagonista
 O protagonista é colocado algumas vezes como o pobre homem indefeso, uma presa das malucas succubus que passam por seu caminho, sendo que todos ali são adultos. Em um primeiro momento, faz sentido para o enredo isso, inclusive o andar número 2 é sobre luxúria.
 Todavia, infelizmente tanto o protagonista quanto a narrativa pouco crescem em relação ao tema. Permanece o mesmo discurso em tom de julgamento. De um lado, temos as mulheres lascivas, fisicamente muito bem descritas, com desejos e histórias. Do outro, Beatriz, a mulher que ele busca, sóbria e sem história. E isso permanece até o fim: as mulheres da rua? Sexo, o carnal, a diversão. Já aquelas que idealizamos e vamos casar? O recato e ausência de identidade.

Por fim, quando Beatriz finalmente aparece no último andar, somos apresentados para a uma personagem com pouquíssimo sal que serve somente como medalha pelo fim da saga ao protagonista e continuamos sem saber quem caralhos é Beatriz.

Apesar da premissa ser interessante, falta uma construção mais madura na obra (ou talvez seja essa a intenção, vai saber).

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